Quem sou, está escrito.

"Por favor, não me impeça dessa vez, não me atrapalhe, não me interrompa. Estou escrevendo.
É a única forma de me manter viva, é a única forma de continuar sendo eu.
Porque quando ou se me tirarem esse pequeno grande remédio, que será de mim que se encontra totalmente viciado?
Desde sempre estive eu com o papel nas mãos, sem conhecer as letras, mas sempre admirando-as. Desejando um dia poder compreendê-las e imaginando o quão longe elas me levariam.
Por favor, não retirem meu eu. Não reneguem quem sou. Eu sou o que escrevo, eu sou o que está escrito.
Alienada e distante, continuo a fixar-me nas linhas retas em que mantenho minha caneta, deixando a mão doer, até que tenha voltado. Voltado à vida real. E voltar é tão desesperador.
No mundo de que venho, tudo é como dito: se quero que chova, chove. Se quero que haja neve e sol, haverá neve e sol.
Alienada e distante, é assim que tem que ser, para que eu me mantenha viva.
Se um dia pois, me tornarei solitária e realista, abandonando esse mundo em que só eu vivo, se não encontrar mais motivos para fugir para ele, para querer estar nele, então certamente significa que perdi a mim mesma.
Mas creio que se um dia me perder, elas me encontraram de novo. Elas sempre me encontram.
As palavras, as letras, as frases.
Elas me chamam e eu as reconheço. Elas sabem meu nome e eu os delas. E é impossível não atender a esse chamado. Principalmente quando ele vem de dentro de você.
Por isso, todo o conceito de individualidade que aprendi até hoje, isolamento e solidão estão preenchidos até a borda por elas, que me confortam num dia em que preciso ser confortada, que me alegram quando preciso que me elegrem ou que me emocionam quando quero sentir emoção. Está tudo lá, é só procurar.
É só procurar por elas.
E isso é o que não me faz entender como, como é possível, que alguém em qualquer parte do mundo pode se sentir só ou ignorá-las, sendo que elas estão lá procurando alguém que as queira."



Thais Mendonça .